Suspiros Poéticos
e Saudades (Prefácio)
Pede o uso que
se dê um prólogo ao Livro, como um pórtico ao edifício; e como este deve
indicar por sua construção a que Divindade se consagra o templo, assim deve
aquele designar o caráter da obra. [...]
É um Livro de
Poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre as
ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos
Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço, ora na gótica
catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do Cristianismo; ora
entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora enfim refletindo
sobre a sorte da Pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. São
poesias de um peregrino, variadas como as cenas da Natureza, diversas como as
fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento, e se ligam
como os anéis de uma cadeia; poesias d'alma, e do coração, e que só pela alma e
o coração devem ser julgadas.
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O fim deste
Livro, ao menos aquele a que nos propusemos, que ignoramos se o atingimos, é o
de elevar a Poesia à sublime fonte donde ela emana, como o eflúvio d'água, que
da rocha se precipita, e ao seu cume remonta, ou como a reflexão da luz ao
corpo luminoso; vingar ao mesmo tempo a Poesia das profanações do vulgo,
indicando apenas no Brasil uma nova estrada aos futuros engenhos.
................................................................................................................................................................. Quanto à forma, isto é, a construção, por
assim dizer, material das estrofes, e de cada cântico em particular, nenhuma
ordem seguimos; exprimindo as ideias como elas se apresentaram, para não
destruir o acento da inspiração; além de que, a igualdade dos versos, a
regularidade das rimas, e a simetria das estâncias produz uma tal monotonia, e
dá certa feição de concertado artificio que jamais podem agradar. [...]
................................................................................................................................................................. Algumas palavras acharão neste Livro que nos
Dicionários Portugueses se não encontram; mas as línguas vivas se enriquecem
com o progresso da civilização, e das ciências, e uma nova ideia pede um novo
termo.
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Tu vais, oh
Livro, ao meio do turbilhão em que se debate nossa Pátria; onde a trombeta da
mediocridade abala todos os ossos, e desperta todas as ambições; onde tudo está
gelado, exceto o egoísmo: tu vais, como uma folha no meio da floresta batida
pelos ventos do inverno, e talvez tenhas de perder-te antes de ser ouvido, como
um grito no meio da tempestade. Vai; nós te enviamos, cheio de amor pela
Pátria, de entusiasmo por tudo o que é grande, e de esperanças em Deus, e no
futuro. Adeus! Paris,
julho de 1836.
MAGALHÃES, Domingos José
Gonçalves de. Suspiros poéticos e saudades. 3 ed. Rio de Janeiro, Garnier,
1865. p. 9-15.
Para compreender melhor o texto
1- No início do segundo parágrafo, o poeta define o seu
livro. De que modo?
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2- Quais os lugares nomeados pelo autor que favoreceram a
sua inspiração?
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3 – Qual o objetivo específico que o autor teve ao
escrever o livro?
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4 – Quais as características tipicamente românticas que o
poeta expressou neste prefácio?
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